sexta-feira, 8 de setembro de 2017

AVÔ, AGORA NÃO, ESTOU NA ESCOLA!


Aproximei-me de um dos meus netos. Gosto de apreciá-los e, sempre que considero oportuno, tento perceber o seu desenvolvimento. Desta vez, delicadamente, disse-me: "avô, agora não, estou na escola". Estava a seguir um  dos seus canais preferidos. Pelo que me apercebi tratava-se de um programa de ciência espacial. Fiz silêncio e afastei-me. Talvez a resposta dada tenha a ver com uma anterior conversa entre nós, no decorrer da qual lhe disse que, na idade dele, aprendia muito mais vendo determinados "programas" do que através dos "programas" das disciplinas da escola. Lembro-me, na altura, ter-me dito: "isso é verdade". 


Sobre isso, não tenho a menor dúvida. Este sistema educativo já deu tudo quanto tinha para dar. Repete currículos, programas, metodologias e processos pedagógicos. Cansa professores e alunos. Volta e meia pinta-os de fresco, porém, a sua estrutura organizativa mantém os traços seculares. Com algumas variações, sejamos claros, encurrala alunos em uma sala e intoxica-os com um falso conhecimento enciclopédico, de fora para dentro, a martelo, procurando a resposta e bloqueando a pergunta. Logo no primeiro dia de aulas ficam marcadas as avaliações no decorrer do período e raramente se fala da importância de ser curioso. A avaliação é o medo imposto, a espada sobre a cabeça que reduz quase a zero a possibilidade de se amar o conhecimento. Portanto, o sistema "esforça-se" por manter a rotina que mata o interesse pelo saber sentido e contextualizado. O sistema, qual disfarce, prega por todo o lado que as crianças estão no centro das políticas educativas, mas ele próprio remete-as para a periferia, colocando o professor como a entidade que ali está para cumprir o superiormente determinado. Ora, quando o professor apenas transmite, quando a aprendizagem tem apenas um sentido, quando decorar o manual é prioritário relativamente à percepção da globalidade e transversalidade dos temas, quando a avaliação é determinante e não o verdadeiro saber, quando o pensamento e a dúvida são desvalorizados, quando se corre para o ensino superior com lacunas graves a vários níveis básicos, será que ninguém se interroga, ninguém coloca em dúvida a estrutura do sistema? Uma  coisa é conceder aos estabelecimentos de ensino a possibilidade de gerirem 25% do currículo; outra, é manter o formato organizacional e pedagógico. É mais do mesmo!
Regresso ao início, ao meu neto. Ele e os outros já perceberam que esta escola está desfasada do seu tempo, mas sabem que têm de cumprir o sistema. O círculo vicioso mantém-se, mas sabem que existem outros e melhores formatos de aprendizagem. Foi, por isso, com alguma ou total ironia que ele me disse: "avô, agora não, estou na escola"!
Ilustração: Google Imagens.

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