sexta-feira, 27 de outubro de 2017

APRENDIZAGEM NA ERA DIGITAL, O QUE É ISSO? O SISTEMA NEM FECUNDA NEM SE DEIXA FECUNDAR PELAS CIÊNCIAS!


De uma importância extrema a iniciativa do DN-Madeira denominada por "Conferências do Casino", desta feita subordinada ao tema genérico As Tecnologias no Ensino. Iniciativa vital, no quadro de uma necessária mudança no sentido de uma escola que acompanhe o tempo digital. O DIÁRIO há muito que tenta dar o mote com o seu próprio exemplo de actualização empresarial, porém, o Sistema Educativo Autónomo, da responsabilidade da Secretaria Regional da Educação, continua a preferir que a informação sobre a Escola do Século XXI entre nos seus ouvidos a 100 e saia de imediato a 200! Tal é a histórica letargia, a acomodação e a falta de visão demonstrada em tantas situações. O pior de tudo isto é  que as "Conferências do Casino" têm o patrocínio da Secretaria Regional da Educação. Que paradoxo!


Um facto comprova-o: o ano de 2017 deve ter sido um daqueles que mais se falou de Educação e dos processos ensino-aprendizagem. Perdi a conta a tantos seminários, acções de formação creditadas para professores, realizadas pelos sindicatos e não só, fóruns de debate, entrevistas na televisão, artigos de opinião, a presença de ilustres palestrantes vindos de fora da Região, inclusive, o registo da visita do secretário de Estado da Educação, não bastassem os livros e revistas disponíveis, enfim, apesar de tudo o que aconteceu e foi sendo notícia, no sentido de despertar consciências, tudo permanece igual, a máquina continua a funcionar imperturbável aos ventos e vozes que reclamam mudanças de pensamento político. Na primeira fila ou no palco da esmagadora maioria das iniciativas, lá  esteve o secretário regional da Educação. O que mudou? Nada. O que está gizado para mudar? Nada de relevante. 
Aprendizagem na era digital, o que é isso? Ora, não basta mandar computadores para as escolas, pois como sublinhou e muito bem a Professora Elsa Fernandes (UMa), "(...) se é para fazer o que já se fazia com papel e lápis, não vale a pena". Tão simples e tão profundo. O drama é que não compreendem ou não querem compreender isto, que a Escola se aferrolhou na sua torre de marfim e, como me dizia o Filósofo Manuel Sérgio, embora em outro contexto, os políticos com responsabilidades no sector da Educação, não se deixam fecundar pelas ciências e pelo conhecimento. Digo eu, nem fecundam nem se deixam fecundar. Segundo li, quatrocentas pessoas, a maioria docentes, marcaram presença nas "Conferências do Casino", porém, a escola, pese embora importantes iniciativas já realizadas, permanece(rá) igual ao passado: disciplinas sectoriais, toques de entrada e de saída, testes, avaliações, conselhos de departamento, de turma e pedagógico, atribuição de níveis ou de notas, circulares, relatórios, muitos relatórios que aumentam as prateleiras do "arquivo morto", ah... e, agora, êxtase por prémios de meritocracia. 
Para mim que nutro aversão (a palavra é esta) a quem não acompanha o tempo que impõe, paulatinamente, novos paradigmas de resposta às necessidades, o que estamos a viver acaba por ser, não apenas decepcionante, mas sobretudo revoltante. O que leva os governantes, questiono, a demonstrarem tanta apatia pelo que é importante? De facto, pelo menos do meu ponto de vista, provoca-me indignação quando dão a entender, no palco, uma preocupação que, a prática, demonstra que não têm. Preferem o passado à construção do futuro; preferem a rotina à ruptura; preferem a aparência à realidade.
Ser secretário regional de qualquer pasta implica, necessariamente, uma capacidade acrescentada para ver longe, para desafiar, para comprometer, para conjugar o conhecimento com a definição de políticas assertivas. Passaram-se dois anos da presente legislatura e tudo continua igual na estrutura. Li e estudei em Katzenbach que o atributo de um "verdadeiro líder da mudança" (VLM) é o de "saber alcançar altos padrões de desempenho, através da alteração dos comportamentos e das competências das pessoas", isto é, os VLM evidenciam coragem para desafiar as normas; geram a motivação dos outros e demonstram capacidade de iniciativa para se moverem para lá dos limites definidos. Mais: "um líder deve ser uma pessoa que pelas suas palavras, ou pelo seu exemplo pessoal, influencia os pensamentos, os comportamentos e/ou sentimentos de um número significativo de pessoas". Li, não me recordo onde, esta síntese perfeita: Luther King, boa referência da liderança, apregoava: "eu tenho um sonho". Ele não disse: "Tenho umas ideias, podemos formar um comité, estudar e ver se resulta". A diferença está aqui. Apoiam iniciativas, como foi o caso da aprendizagem na era digital, mas falta a capacidade de liderança para definir o caminho de um sistema próspero. Como isso não acontece, o sistema educativo anda de fracasso em fracasso, perante o silêncio cúmplice de muitos.
Ilustração: Google Imagens.

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