quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

"O CONSTRANGIMENTO DA MADEIRA É A ILITERACIA"


Conduzida por Maria Catarina Nunes, li uma excelente entrevista publicada, no DN-Madeira, no dia 23 de Janeiro. Pelo seu interesse, deixo aqui um excerto que me provocou uma atenção especial. Aquelas palavras muito nos deixa a pensar sobre o Sistema Educativo. 


Não há páginas de imprensa suficientes para contar uma conversa com Manuel Sobrinho-Simões. É considerado o patologista mais influente do mundo e é dos maiores especialistas em cancro da tiróide. Criou escolas de patologia em diversos países e, em 1989, fundou o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP). Mais tarde, é também responsável pelo I3S, no Porto, o maior instituto de investigação português em Ciências da Saúde, cujo edifício foi agora escolhido para representar Portugal na Bienal de Veneza. É um conversador nato, e toca em temas que vão muito além da saúde e da investigação. Para si, os livros “são objectos vivos” e falta pensamento crítico aos alunos de medicina. Admite que a educação é a sua grande paixão mas, este ano lectivo, depois de completar 70 anos em Setembro, já não dá aulas na Universidade do Porto porque a reforma chegou. Confessa ter “terror” dela (assim como muitos outros medos) e por isso faz o que chama “uma fuga para a frente”. Foi agora eleito professor emérito da Faculdade do Porto e esteve na Madeira a propósito das conferências de Telesaúde e para falar sobre patologia digital. Com o DIÁRIO também conversou sobre a importância da família, a reforma, a morte ou os afectos.

"A cultura das nossas escolas secundárias e das universidades é a cultura da matéria (...) estão treinados para fazer exames"

(...)

"Como são os estudantes portugueses?

Tive alguns tipos depois da Revolução... Eu era vagamente esquerdista e não me podiam expulsar por ser de direita. Quando eles exageravam punha-os no olho da rua. Era um pânico porque ninguém mandava para o olho da rua na pós-revolução. Hoje os alunos de medicina são muito parecidos: muito bons alunos, bem educados, cumpridores. São excessivamente postos por ordem. Temos um problema: são muito bons alunos, tiveram que decorar muito para entrar em medicina, desenvolveram muitas capacidades de memorização, mas não são tipos que tenham vivido muito. Não contam bem histórias, são pouco narrativos, estão treinados a fazer exames de cruzinha, vêem-se muito aflitos nas provas orais. Mas são bem educados, sensíveis e inteligentes. Têm muita pouca graça.

São demasiado pragmáticos?

E postos por ordem, não estou muito contente. Estamos a seleccionar, no ensino secundário, para Medicina (e se calhar para outras áreas) com base na memorização, na capacidade de responder a perguntas teóricas em vez na base do pensamento crítico, da criatividade. Não sei até que ponto, na Medicina, não é mais importante haver criatividade, pensamento crítico. E gostar de pessoas mais do que de coisas. A nossa cultura das escolas secundárias e das universidades é uma cultura da matéria, sobretudo para estas áreas. Na Medicina era importante também desenvolver gosto pela música, pela dança, pelo trabalho colectivo.

Reflectia-se na prática clínica?

Tenho a certeza que sim. Melhorava a capacidade dos médicos conversarem. Também é fruto do que têm para fazer, têm muita informação, têm um computador com um interlocutor, não têm um treino de conversar com doentes que sejam chatos. Isso e a formação está a tirar qualidade à medicina clínica. Clínica significa inclinar, é o tipo que está sobre uma cama. ‘Clinos’ é cama. Médico é o que está no meio. O médico clínico é o que está no meio, mas que além disso se inclina para alguém. Nada disso se está a fazer hoje. Também porque os portugueses gostam muito de análises. Somos o povo mais medicamentado da Europa do euro. O português adora tomar pastilhas e pingos à noite. Outra coisa horrível é que somos, depois da Grécia, o país da Europa do euro que tem mais aparelhos de TAC por habitante. O português adora fazer TAC. Temos uma ideia muito retórica, o valor da palavra, o valor das análises."
(...)
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

É POSSÍVEL CONSTRUIR UM ESPÍRITO LIVRE?

"A espécie humana tem um longo período de infância e adolescência, para que aconteça o desenvolvimento e a maturação de sistemas vitais. É um processo lento, que requer determinadas condições, contudo, trata-se de uma oportunidade extraordinária para desenvolver competências e valores essenciais, através de experiências biopsicossociais e espirituais, em contextos lúdicos de aprendizagem que desenvolvem a resiliência, o comportamento adaptativo e a criatividade. Estes atributos permitirão aprender a interpretar os factos da vida, dentro da sua relatividade, de forma mais holística possível, transformando-os em variáveis que estimulam e desafiam para viver riscos. Estes serão aceites como factores naturais e fundamentais, para a estimulação individual e a consolidação da autoconfiança, vetores basilares para a autodeterminação e o propósito de ser livre. Contudo, se não construir uma visão clara do que pretende e um inabalável desejo de o atingir, esse propósito não passará de uma miragem, mesmo em liberdade, dificilmente um espírito será livre. Carlos de Andrade, nascido no dia 01 de julho 1967, era um menino com sonhos de uma vida melhor e mais feliz. Português, moçambicano de nascença, madeirense por assimilação. O Carlos de Andrade de hoje é o resultado de um conjunto de experiências e histórias do passado com impacto no presente e no futuro dos que o rodeiam, desde as origens em África, à fuga e pobreza provocada pela guerra; foi refugiado, atleta, estudante, professor, mentor, empresário, funcionário público e é sem dúvida um risk taker e um free spirit. Hoje, é mentor para muitos que procuram um caminho para a felicidade; excelente pai, querido amigo, líder e membro dedicado às suas equipas, que segue inspirando e orientando, sem nunca faltar o dom para o discurso, a boa disposição, a assertividade, a confiança, o bom senso, um bom ouvido e a vontade de mais alcançar e aprender todos os dias, passando pela luta para encontrar uma vida melhor para si e para aqueles que lhe são queridos."

 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

SOU MÃE E SOU PAI E ESTOU ASSUSTADA


Na edição do DN-Madeira, de 20 de Janeiro, na secção "Cartas do Leitor", assinada por Lurdes Camacho, li o texto que abaixo reproduzo. Não comento, mas, face à ausência de qualquer posição por parte da Secretaria Regional da Educação, julgo que competirá aos partidos políticos com assento na Assembleia, tomarem em mãos a causa da EDUCAÇÃO. Trata-se de um sector onde é evidente um preocupante silêncio, quando o nosso futuro colectivo dela depende. São as questões organizacionais, as de natureza curricular, os programas e está em causa como transmitir conhecimento. Mas não apenas nestes fulcrais aspectos. Convido os leitores a lerem, por exemplo, um texto no blogue Fénix do Atlântico sob o título "A Educação está a arder". Por onde anda o Presidente do Governo?  



"Serve o presente para expor a situação, deveras preocupante, que se vive na Educação na Madeira, porque é que temos tantas crianças sem aulas, tanta desigualdade entre crianças? Temos escolas onde as turmas tem mais professores que alunos, e escolas onde tantos alunos não têm professores, escolas sem funcionários e outras onde os funcionários se atropelam. 
Eu, enquanto cidadã, sempre acreditei e muito nas pessoas da minha terra, sempre achei que eram honestas e se preocupavam com a valorização daquilo que é colocado à nossa disposição, à disposição do nosso desenvolvimento.
Sou mãe de uma aluna do 2.º ano, no início do ano a turma era pequena, mas a minha filha estava a aprender, agora as turmas estão juntas e a minha filha já não quer ir para a escola. A direção da escola mostrou-nos os documentos em que pede que a professora seja substituída, mas não tem resposta. Eu sei que escolas como o garachico, santana, madalena ou curral entre outras também têm turmas juntas, mas está mal, o futuro das nossas crianças não pode ser tratado com tanta irresponsabilidade, alguns meninos sem conhecimentos de português e outros com necessidades educativas especiais e estão em turmas de anos diferentes numa mesma sala, simplesmente porque a secretaria nunca colocou uma Professora para cada turma. 
Mas senhor Secretário e ao mesmo tempo: 
Há escolas na RAM no 1.º ciclo que, com 16 alunos por sala têm 2 professores efetivos e outras com 20 juntam salas. 
Há escolas na RAM que têm professores de informática no 1.º ciclo e outras são proibidas. 
Há escolas da RAM que no 2.º ciclo têm par pedagógico em todas as disciplinas e outras onde faltam professores. 
Há escolas da RAM que no 3.º ciclo têm par pedagógico (20 professores) em turmas de 3 alunos e outras onde alunos não tem aulas por falta de professores. 
Há escolas da RAM em que os alunos não têm professores e a secretaria não os coloca. 
Há uma escola da RAM que tem tantos alunos como professores, mas como o diretor é amigo do SRE está tudo bem. 
Há nas escolas da RAM professores e diretores que por não baterem palmas nem dizerem sim senhor ao SRE são perseguidos “pelo braço punidor/ Inspeção de Educação” do gabinete do secretário da educação. 
Há medo nas escolas senhor secretário, não deixe que isso aconteça. 
As escolas não deviam ser um serviço de igualdade senhor secretario da educação, não trate mal os nossos filhos, nós sabemos que a sua filha está numa turma de privilegiados numa escola pública, mas não se esqueça dos filhos do povo. 
Termino citando Francisco Sá Carneiro que em 1972, ainda que em ditadura nos dizia “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for.” Sá Carneiro era do PSD, o senhor supostamente também senhor secretário, não é o PSD o partido da Paz, do Pão do Povo e da Liberdade?"
Lurdes Camacho

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

NO FÓRUM DE DAVOS - JACK MA FALOU DE MUDANÇAS NO SISTEMA EDUCATIVO


Vale a pena escutar a intervenção de Jack Ma. Sabe-se que assim é, mas há políticos que, infelizmente, não sabem ou não querem mudar. Numa rápida tradução das legendas do vídeo, no essencial, disse: A EDUCAÇÃO é um grande desafio. Se não mudarem a forma como estão a ensinar, nos próximos 30 anos terão problemas. A maneira como ensinamos, as coisas que ensinamos aos nossos filhos são as coisas dos últimos 200 anos. Não podemos ensinar nossos filhos a competir com máquinas. Eles são mais inteligentes. Os professores devem parar. Transmitir conhecimento. Temos que ensinar algo único. A máquina nunca pode sobrepôr-se. Estas são as habilidades suaves que precisamos de ensinar: valores, o pensamento independente e o trabalho em equipa. Devemos ensinar aos nossos filhos: o desporto, música, pintura para fazer seres humanos diferentes. Tudo o que se ensinar deve ser diferente.

TUDO O QUE ENSINAMOS 
DEVE SER DIFERENTE DAS MÁQUINAS!


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

EM MACHICO OS ALUNOS PROTESTARAM CONTRA O SISTEMA EDUCATIVO



"Os estudantes da Escola Básica e Secundária de Machico encontram-se, hoje, em greve contra o actual sistema de ensino. Mais de uma centena de alunos aderiram ao protesto espontâneo que dá voz às principais inquietações dos finalistas do 3.º ciclo e secundário: carga horária excessiva, falta de opções curriculares, ‘abandono’ das área criativas e das Artes e um sistema de avaliação redutor baseado quase exclusivamente em testes.


“Estamos descontentes com o método de ensino actual. Estamos a ser todos encaminhados para as Ciências e Matemáticas e estão a cortar toda a nossa criatividade”, declara Marla Viveiros, uma das alunas que lidera este protesto estudantil. Marla, à semelhança de muitos colegas, considera que a actual oferta curricular da escola (direccionada sobretudo para as Ciências e Matemática), aliada a uma carga horária que “não para de aumentar” deixa pouco ou nenhum tempo aos jovens do 9.º e 12º ano para pensar e decidir sobre o que querem fazer no futuro. Por outro lado, os alunos mostram-se descontentes com o próprio sistema de avaliação, baseado quase exclusivamente num único teste por período. “O nosso conhecimento vai muito além dos testes”, defendem. Entre outras reivindicações, os jovens machiquenses reclamam ainda mais aulas práticas. “Como é que é suposto decidirmos o que vamos fazer se não experimentamos fazer nada?”, questionam. Em declarações ao DIÁRIO, os alunos alegam que o protesto iniciado esta manhã contava com uma adesão de “mais de 100 alunos”. Após uma intervenção do Conselho Executivo, que terá chamado ao seu gabinete dois dos ‘cabecilhas’ da manifestação por estarem a perturbar o silêncio em tempo lectivo, muito dos aderentes à greve terão começado a dispersar. (...)"

NOTA

Texto publicado pelo DN-Madeira (jornalista Erica Franco) e aqui reproduzido.

BREVE COMENTÁRIO

"SE O MUNDO MUDA, OS CURRÍCULOS E A ESCOLA TÊM DE MUDAR" - Maria Emília Brederode Santos, Presidente do Conselho Nacional de Educação.

Era uma questão de tempo e este Sistema Educativo rebentaria por onde seria mais natural: os alunos. Interessante é a chamada à responsabilidade dos ditos "cabecilhas". Contava-me um ilustre Amigo com quem tinha longas conversas, que há países que até ostentam estátuas à liberdade por defenderem a democracia. Mas, aquando de manifestações, não querem saber dos motivos que subjazem aos gritos de revolta. Apenas querem saber quem organizou e esses ficam com o destino definido!
Fico feliz por aquela chamada de atenção ter decorrido em Machico, terra de longas lutas pela democracia. E fico feliz por ver que os alunos tomaram consciência do logro deste sistema. Ao invés de ouvirmos, em coro, os professores contra um sistema absolutamente anacrónico, não, foram os alunos "chamados ao tapete" para que tudo continue igual. É a máquina da estupidez a funcionar em pleno.
Sou colaborador da revista A Página da Educação. No último número escrevi subordinado ao título "A máquina, os pingos de chuva e a ferrugem". Referi-me, a páginas tantas, a "uma certa ausência de questionamento sobre a máquina. Há silêncios a mais. Há braços caídos e até mesmo uma sensação de que não vale a pena. É mais fácil manter a rotina do que molhar o fato perante a chuva de críticas que a todo o momento cai". Curiosamente, foram os alunos, a ponta mais fraca, a enfrentar a chuva. Para mim é espantoso aquilo que o Conselho Executivo entende como quebra do "silêncio em tempo lectivo". Trata-se do toca-entra-toca-sai! Tal como na fábrica.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

UM LIVRO DE LEITURA OBRIGATÓRIA NÃO APENAS PARA PROFESSORES E TREINADORES


Do meu distinto Amigo Gustavo Pires recebi, ontem, o notável livro "Agon - Homo Sportivus", seu autor em parceria com o Professor António Cunha. No prefácio de um outro Amigo que quase todos os dias tenho presente, o Doutor Manuel Sérgio, leio: "Uma pequena introdução a um grande livro". Ainda não iniciei a leitura, apenas folheei as 300 páginas de sumo a avaliar pelo índice que começa em Tai Kung (Século XI aC - Estrategas e Estrategistas) até às Estratégias e Estratagemas dos tempos actuais. É um livro, de acordo com o Filósofo Manuel Sérgio, que obriga a um "faiscar de pupilas, de muita admiração e respeito" quando escrito por aqueles dois autores.


Tenho por Gustavo Pires, Catedrático da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, uma admiração que vem de longa data. Temos uma Amizade recíproca. Comungamos de idênticos pontos de vista sobre a Educação Desportiva. A sua luta, incompreendida, ficará para "memória futura", da mesma forma que a sua persistente e profunda investigação em matérias de Olimpismo, com vários trabalhos publicados, um dia servirão para corrigir erros estratégicos cometidos e que fazem de Portugal um país sempre distante do topo. Faço notar que as duas vertentes estão interligadas: a educação desportiva, enquanto bem cultural, e o olimpismo que alia a cultura à educação. 
Parabéns Amigo Gustavo, extensivo ao António Cunha, Mestre em Ciências do Desporto, por este livro que Manuel Sérgio considera de extremo "rigor e originalidade".

domingo, 14 de janeiro de 2018

TIREM-ME DESTE FILME!


No âmbito do I Encontro "Ambientes Inovadores de Aprendizagem", o secretário Regional da Educação falou do "Projecto Cap3r (capacitar a aprendizagem promovendo estratégias de robótica, realidade aumentada/virtual e impressão 3D). Fiquei estarrecido com o anúncio de aquisição de 50 óculos! Espero que alguns fiquem pela secretaria da Educação, melhorando a visão da realidade do sistema. Como vulgarmente se diz e seguindo o desabafo de um professor com larga experiência, com quem me cruzei, "por amor da santa, tirei-me deste filme". E porquê? Apenas por uma pergunta que dá aso a  muitas outras: este projecto faz parte de quê? Trata-se, digo eu, de mais uma fase orgásmica do sistema, pois não se integra de forma consistente em um novo paradigma da educação, consubstanciado em uma diferente organização dos estabelecimentos de ensino, em uma nova perspectiva curricular, programática e pedagógica. 


Ora, quando não existe uma preocupação pela estrutura do pensamento, sobre aquilo que, efectivamente, se deseja, é óbvio, que o sistema tende a (sobre)viver dessas fases orgásmicas em sentido figurado, enquanto efervescência de sentimentos que depressa passam. Momento de desejo, excitação, plateau, orgasmo e resolução. Lá virá outra, cheia de entusiasmo, a que se seguirá o repouso político. O trabalhinho fica feito. Lamento que assim seja. 
O sistema precisa de uma revolução face à qual não existe coragem para a fazer. Mexer no sistema com determinação e a consciência que são necessários quinze, vinte ou mais anos para que ele funcione com absoluta normalidade e capacidade de mudança a todo o momento, é difícil e não está ao alcance de qualquer. Joga com muitas variáveis. É, por isso, que a Região precisa de políticos com essa ambição, que saibam de todos os domínios do sector, que tenham engenho e a arte de produzir, capazes de seguir um processo e, sobretudo, determinados a relegarem impulsos de circunstância. Com frontalidade e de forma muito séria, os mentores do actual sistema assemelham-se a crianças a quererem subir degraus de três em três e estatelam-se. Eu sugeria, entre outros, a leitura deste texto, AQUI
Preferível seria, depois de mais de dois anos de mandato, que o secretário da Educação da Madeira, negando-se aos impulsos, apresentasse, publicamente, um documento profundo, fundamentado e actual, compaginado e de forma integrada com outros sectores da governação, que determinasse os caminhos a percorrer, passo a passo, onde ficasse evidente a capacidade de ruptura e inovação susceptível de projectar a Escola do Futuro. Esse documento não existe. Não foi apresentado na Assembleia Legislativa, tampouco publicitado por iniciativa do governo. Existe, sim, a repetição do passado, salpicado aqui e ali com iniciativas desconjuntadas. E vêm falar de "ambientes inovadores na aprendizagem"? Realmente, aquele professor tem toda a  razão: "tirem-me deste filme".
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 6 de janeiro de 2018

HÁ UM DÉFICE DE ATENÇÃO SAUDÁVEL


É preciso olhar com atenção para as práticas educativas globais

Por
DN-Madeira. 06 JAN 2018 


Pensar a adolescência de hoje é pensar no contexto e na forma como a integramos nos hábitos da vida atual. Tudo começa na infância. Basta observar alguns contextos que envolvem adultos e respetivas crianças. Existe um mundo criado para os adultos onde as crianças são distraídas com diferentes estímulos que as obriga a estar permanentemente ativas acompanhando o ritmo tantas vezes frenético dos pais.
São raras as situações em que observamos os adultos a interagir no mundo criativo das crianças permitindo-lhes usar o seu imaginário ou simplesmente partilhar momentos de contemplação. A falta de tempo do “nada”, essencial ao crescimento e desenvolvimento saudável, tornou-se um problema de adultos impingido às crianças.
Para além desta falha básica no ato de crescer os espaços educativos, ao tentar compensar com dinâmicas criativas pensadas mais para o coletivo do que para o individual, centram-se demasiado nos resultados comparando médias e níveis de crescimento. Desvaloriza-se a relação entre os níveis de maturidade e desenvolvimento de competências individuais que, ainda que obedeçam a padrões, têm uma dimensão individual significativa. Tudo o que sai da norma é alvo de análise e tentativa de enquadramento no padrão esperado com uma tendência marcante para considerar perturbação muito do que seria apenas nível de maturidade e tentativa de ajustamento aos infinitos estímulos propostos.
É preciso olhar com atenção para as práticas educativas globais e para a forma como nas últimas décadas as crianças têm sido desrespeitadas nas suas necessidades. Este modelo, que tem vindo a dar jeito aos adultos e ao estilo consumista que entra na vida das famílias e silenciosamente vai pervertendo as relações e destruindo o mundo imaginário, não está a resultar.
Quando chega a idade da adolescência e se associam a ela os primeiros desenhos que provocam preocupação é que alguns olham para trás e relembram esboços que, redesenhados no tempo certo, poderiam facilitar o crescimento dando mais segurança e consistência às experiências futuras.
Quanto mais rica tiver sido a infância mais deslumbrante será a adolescência e mais gratificante o ato de crescer. Riscos? Faz parte do processo. Erros? Estranho é não os cometer.
Ter quem nos ouça é sempre um privilégio, mas para ouvir é preciso estar desatento e desligado dos estímulos diariamente oferecidos por todos aqueles que o que mais desejam são pessoas formatadas à imagem de tudo o que lhes pretendem oferecer. A eterna conexão ao sistema atual não é sinal de vitalidade.
Há um deficit de atenção saudável que famílias, educadores e técnicos de saúde precisam de refletir.

NOTA
Artigo de opinião da autoria da Psicóloga Manuela Parente, publicado na edição de hoje do DN-Madeira e aqui reproduzido com a devida vénia.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

"10 SEGUNDOS PARA O FUTURO. O MUNDO EM 2077". OPORTUNIDADE PARA OS GOVERNANTES REPENSAREM O SISTEMA EDUCATIVO


Este primeiro programa de uma série de quatro, deixou-me completamente pregado ao sofá. Emocionante. Permitiu-me, por extensão, reflectir sobre o Sistema Educativo que, teimosamente, continua, parece que alegremente, a repetir o passado longe de se constituir como uma fonte prospectiva do futuro. Esta série deveria ser, "obrigatoriamente", vista por governantes, professores, responsáveis pelos estabelecimentos de ensino, motivo de reflexão que coloque em causa todo o sistema organizacional, os currículos, os programas e toda, toda a organização pedagógica. Estamos face à inteligência artificial, porém, o sistema educativo continua lá para trás na era industrial. Que pobreza!


A série da RTP, ontem iniciada, é absolutamente fascinante ao mesmo tempo que é geradora de uma enorme preocupação. Como será o futuro daqui por sessenta anos? "As próximas décadas vão sofrer a maior e mais veloz transformação de sempre. Na tecnologia, na ciência, no ambiente, nas relações interpessoais. Vivemos numa espécie de grande acelerador de ciência, em que o ritmo das descobertas não pára de surpreender. Nas últimas décadas acumulou-se mais conhecimento científico do que em toda a história da Humanidade. Em 2077 esse conhecimento científico terá duplicado várias vezes", leio na presentação desta fenomenal série de quatro programas. Estamos, ainda, convicto estou, na fase embrionária, que tal como Tofller sublinhou nos primórdios dos anos 80, jamais será possível meter o futuro nos cubículos convencionais de ontem. 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
NANOTECNOLOGIA
FUSÃO HOMEM/MÁQUINA 
GENÉTICA

"(...) Abandonámos as cavernas. Inventámos a roda, a locomoção a vapor, a electricidade, a internet. Construímos automóveis, aviões, foguetões. Lançámo-nos no Espaço. Criámos os mercados, a medicina, o armamento. Recriámos vida… Mas com uma insatisfação absoluta e permanente e uma vontade de alcançar sempre mais (...) Estamos no ponto de partida de uma mudança tecnológica exponencial. Nas próximas décadas viveremos a desmaterialização da tecnologia. Os computadores abandonarão as secretárias para se instalar nos olhos, nas paredes e em tudo o que nos rodeia. Os chips estarão integrados em praticamente tudo à nossa volta, transmitindo informação vital. A qualidade e a esperança média de vida aumentarão espantosamente e o envelhecimento será retardado. Teremos capacidade de escolher genes para os nossos filhos e criar novas formas de vida.
Em 2007, um smartphone tinha mais potência do que os computadores da NASA que levaram o homem à Lua em 1969. Em 2077 é provável que controlaremos os objectos à nossa volta através do pensamento. É unânime a opinião de que a revolução em curso é a maior e mais rápida de todas, com a intercepção da genética, da nanotecnologia e da inteligência artificial. As consequências são inúmeras e transversais, com grande impacto na saúde. No entanto, a ascensão da máquina lança desafios sem precedentes, até a possibilidade de extinção da própria Humanidade". (todo o vídeo aqui)
Este primeiro programa de uma série de quatro, deixou-me completamente pregado ao sofá. Emocionante. Permitiu-me, por extensão, reflectir sobre o Sistema Educativo que, teimosamente, continua, parece que alegremente, a repetir o passado longe de se constituir como uma fonte prospectiva do futuro. Esta série deveria ser, "obrigatoriamente", vista por governantes, professores, responsáveis pelos estabelecimentos de ensino, motivo de reflexão que coloque em causa todo o sistema organizacional, os currículos, os programas e toda, toda a organização pedagógica. Estamos face à inteligência artificial, porém o sistema educativo continua lá para trás na era industrial. Que pobreza!
Ilustração: Google Imagens.