quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

EM MACHICO OS ALUNOS PROTESTARAM CONTRA O SISTEMA EDUCATIVO



"Os estudantes da Escola Básica e Secundária de Machico encontram-se, hoje, em greve contra o actual sistema de ensino. Mais de uma centena de alunos aderiram ao protesto espontâneo que dá voz às principais inquietações dos finalistas do 3.º ciclo e secundário: carga horária excessiva, falta de opções curriculares, ‘abandono’ das área criativas e das Artes e um sistema de avaliação redutor baseado quase exclusivamente em testes.


“Estamos descontentes com o método de ensino actual. Estamos a ser todos encaminhados para as Ciências e Matemáticas e estão a cortar toda a nossa criatividade”, declara Marla Viveiros, uma das alunas que lidera este protesto estudantil. Marla, à semelhança de muitos colegas, considera que a actual oferta curricular da escola (direccionada sobretudo para as Ciências e Matemática), aliada a uma carga horária que “não para de aumentar” deixa pouco ou nenhum tempo aos jovens do 9.º e 12º ano para pensar e decidir sobre o que querem fazer no futuro. Por outro lado, os alunos mostram-se descontentes com o próprio sistema de avaliação, baseado quase exclusivamente num único teste por período. “O nosso conhecimento vai muito além dos testes”, defendem. Entre outras reivindicações, os jovens machiquenses reclamam ainda mais aulas práticas. “Como é que é suposto decidirmos o que vamos fazer se não experimentamos fazer nada?”, questionam. Em declarações ao DIÁRIO, os alunos alegam que o protesto iniciado esta manhã contava com uma adesão de “mais de 100 alunos”. Após uma intervenção do Conselho Executivo, que terá chamado ao seu gabinete dois dos ‘cabecilhas’ da manifestação por estarem a perturbar o silêncio em tempo lectivo, muito dos aderentes à greve terão começado a dispersar. (...)"

NOTA

Texto publicado pelo DN-Madeira (jornalista Erica Franco) e aqui reproduzido.

BREVE COMENTÁRIO

"SE O MUNDO MUDA, OS CURRÍCULOS E A ESCOLA TÊM DE MUDAR" - Maria Emília Brederode Santos, Presidente do Conselho Nacional de Educação.

Era uma questão de tempo e este Sistema Educativo rebentaria por onde seria mais natural: os alunos. Interessante é a chamada à responsabilidade dos ditos "cabecilhas". Contava-me um ilustre Amigo com quem tinha longas conversas, que há países que até ostentam estátuas à liberdade por defenderem a democracia. Mas, aquando de manifestações, não querem saber dos motivos que subjazem aos gritos de revolta. Apenas querem saber quem organizou e esses ficam com o destino definido!
Fico feliz por aquela chamada de atenção ter decorrido em Machico, terra de longas lutas pela democracia. E fico feliz por ver que os alunos tomaram consciência do logro deste sistema. Ao invés de ouvirmos, em coro, os professores contra um sistema absolutamente anacrónico, não, foram os alunos "chamados ao tapete" para que tudo continue igual. É a máquina da estupidez a funcionar em pleno.
Sou colaborador da revista A Página da Educação. No último número escrevi subordinado ao título "A máquina, os pingos de chuva e a ferrugem". Referi-me, a páginas tantas, a "uma certa ausência de questionamento sobre a máquina. Há silêncios a mais. Há braços caídos e até mesmo uma sensação de que não vale a pena. É mais fácil manter a rotina do que molhar o fato perante a chuva de críticas que a todo o momento cai". Curiosamente, foram os alunos, a ponta mais fraca, a enfrentar a chuva. Para mim é espantoso aquilo que o Conselho Executivo entende como quebra do "silêncio em tempo lectivo". Trata-se do toca-entra-toca-sai! Tal como na fábrica.

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