domingo, 14 de janeiro de 2018

TIREM-ME DESTE FILME!


No âmbito do I Encontro "Ambientes Inovadores de Aprendizagem", o secretário Regional da Educação falou do "Projecto Cap3r (capacitar a aprendizagem promovendo estratégias de robótica, realidade aumentada/virtual e impressão 3D). Fiquei estarrecido com o anúncio de aquisição de 50 óculos! Espero que alguns fiquem pela secretaria da Educação, melhorando a visão da realidade do sistema. Como vulgarmente se diz e seguindo o desabafo de um professor com larga experiência, com quem me cruzei, "por amor da santa, tirei-me deste filme". E porquê? Apenas por uma pergunta que dá aso a  muitas outras: este projecto faz parte de quê? Trata-se, digo eu, de mais uma fase orgásmica do sistema, pois não se integra de forma consistente em um novo paradigma da educação, consubstanciado em uma diferente organização dos estabelecimentos de ensino, em uma nova perspectiva curricular, programática e pedagógica. 


Ora, quando não existe uma preocupação pela estrutura do pensamento, sobre aquilo que, efectivamente, se deseja, é óbvio, que o sistema tende a (sobre)viver dessas fases orgásmicas em sentido figurado, enquanto efervescência de sentimentos que depressa passam. Momento de desejo, excitação, plateau, orgasmo e resolução. Lá virá outra, cheia de entusiasmo, a que se seguirá o repouso político. O trabalhinho fica feito. Lamento que assim seja. 
O sistema precisa de uma revolução face à qual não existe coragem para a fazer. Mexer no sistema com determinação e a consciência que são necessários quinze, vinte ou mais anos para que ele funcione com absoluta normalidade e capacidade de mudança a todo o momento, é difícil e não está ao alcance de qualquer. Joga com muitas variáveis. É, por isso, que a Região precisa de políticos com essa ambição, que saibam de todos os domínios do sector, que tenham engenho e a arte de produzir, capazes de seguir um processo e, sobretudo, determinados a relegarem impulsos de circunstância. Com frontalidade e de forma muito séria, os mentores do actual sistema assemelham-se a crianças a quererem subir degraus de três em três e estatelam-se. Eu sugeria, entre outros, a leitura deste texto, AQUI
Preferível seria, depois de mais de dois anos de mandato, que o secretário da Educação da Madeira, negando-se aos impulsos, apresentasse, publicamente, um documento profundo, fundamentado e actual, compaginado e de forma integrada com outros sectores da governação, que determinasse os caminhos a percorrer, passo a passo, onde ficasse evidente a capacidade de ruptura e inovação susceptível de projectar a Escola do Futuro. Esse documento não existe. Não foi apresentado na Assembleia Legislativa, tampouco publicitado por iniciativa do governo. Existe, sim, a repetição do passado, salpicado aqui e ali com iniciativas desconjuntadas. E vêm falar de "ambientes inovadores na aprendizagem"? Realmente, aquele professor tem toda a  razão: "tirem-me deste filme".
Ilustração: Google Imagens.

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