sábado, 10 de fevereiro de 2018

AINDA SOBRE OS "RANKING'S" E A AUTONOMIA DAS ESCOLAS


Ao contrário de algumas pessoas, eu "diabolizo" os ranking's das escolas. Houve tempo, lá para trás, no início dessa paranóia, que ainda considerei poder constituir um mero indicador. Ao longo do tempo, lendo estudos e reflectindo sobre todas as variáveis, aliás como já tive a oportunidade de aqui me prenunciar, não só "diabolizo" como entendo que constitui uma infantilidade conceptual defendê-los. Analiso a escola por aquilo que fazem, pela estrutura organizacional que implementam, pela cultura pedagógica que perseguem, pelas preocupações inclusivas e pelo esforço de ninguém ficar para trás, pela sua luta que atenua as diferenças económicas, sociais e culturais e pelo trajecto dos seus alunos após a passagem por um determinado estabelecimento. Simplesmente porque não existem dois públicos iguais, dois grupos de docentes iguais e, portanto, duas escolas iguais. "Diabolizo", porque é um erro conceptual grave conjugar no mesmo patamar as áreas de intervenção pública e privada. Não faz qualquer sentido, nem justificação existe, seja qual for o ângulo de análise, tolerar sequer a existência de ranking's. De escolas e de exames! E se eles existem é porque existem exames. E eu sou, no ensino básico, contra os exames. Há outras formas de acompanhamento e de avaliação. Ademais, tolerar os "ranking's" significa tolerar o actual sistema educativo e manter a desigualdade. 


Na esteira deste posicionamento surge a "autonomia" dos estabelecimentos de educação e ensino. Colocar reservas quanto ao manifesto interesse de um sistema descentralizado e verdadeiramente autónomo, constitui, do meu ponto de vista, um outro grave erro no quadro do pensamento estratégico portador de futuro. Assumir, como ouvi, que há escolas, talvez se possa dizer, professores, que não estão preparados para a "autonomia", é o mesmo que colocar em causa, desde o tempo da ditadura, a luta pela Autonomia da Região, porque os madeirenses e porto-santenses não estariam preparados para ela. A "autonomia" é um processo de avanços e de recuos no quadro da diferenciação, de aprendizagem permanente, é um caminho de utopia que serve para seguir com convicção, feito de experiências que conduzem à melhoria dos resultados. É esta a minha leitura. Aliás, ainda ontem, o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, assumiu: "o que nos dizem as práticas internacionais é que a autonomia das escolas consegue fortalecer, robustecer e alavancar os conhecimentos". Concordo. Na mesma sessão, Andreas Schleicher, da OCDE, foi muito claro: "(...) o desafio para Portugal é educar para as próximas gerações. Para o futuro e não para o passado. E isso significa dar às escolas, mais protagonismo, mais flexibilidade, para alargar o tipo de conhecimentos, aptidões e competências, mas ao mesmo tempo criar mais espaço aos professores e ambientes de aprendizagem inovadores, dando aos estudantes os meios para se preparem para o futuro". Alguém terá dúvidas que este é o caminho? É a própria OCDE que questiona a existência de exames nacionais e defende a autonomia.
Daqui concluo, "ranking's" não, obrigado; autonomia, sim, para as escolas, rapidamente.
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários:

Enviar um comentário