sábado, 31 de março de 2018

POR GPS FORAM DIREITINHOS AO POTE


Ponto prévio: obviamente que há gente muito séria enquanto proprietários ou meros administradores/gestores dos estabelecimentos de educação e ensino privados. Não é isso que está em causa. A questão é de princípio. A Constituição da República Portuguesa é muito clara sobre esta matéria: se, por um lado, garante a liberdade de aprender e ensinar (Art. 43º), por outro, no Artigo 73º define que "Todos têm direito à educação e à cultura" e, no Artigo 74º, que o Estado "promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades (...)", e que "Na realização da política de ensino incumbe ao Estado: a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito; b) Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar; c) Garantir a educação permanente e eliminar o analfabetismo; d) Garantir a todos os cidadãos, segundo as suas capacidades, o acesso aos graus mais elevados do ensino, da investigação científica e da criação artística; e) Estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino (...)". O Artigo 75º sublinha que o "Estado reconhece e fiscaliza o ensino particular e cooperativo, nos termos da lei".


Ora, reconhecer é uma coisa, pagar é outra. Ao Estado compete-lhe, apenas, a educação e ensino de natureza pública. O ensino de natureza particular é, neste contexto, alternativo, no quadro da legítima opção das famílias. E sendo assim, só é compreensível a existência de contratos de associação com os estabelecimentos de natureza privada, quando não existe resposta pública em um determinado local. Aí sim, porque ninguém pode ficar excluído do acesso, o Estado tem o dever de contratualizar. Esta é, portanto, a questão de princípio. 
Por aí se evitaria a vergonhosa situação do Grupo GPS que "(...) segundo o MP, os agora arguidos terão alegadamente feito uso indevido de 30 milhões de euros dos mais de 300 milhões pagos pelo Estado no âmbito deste contrato. O dinheiro entregue pelo Estado aos colégios foi ainda usado para pagar férias, carros (65 apreendidos), bilhetes para o mundial de futebol de 2006, jantares, vinhos e até seguros pessoais dos arguidos administradores (...)". Mais: "(...) Os arguidos administradores conseguiram obter do Estado, no âmbito dos contratos de associação (horas fictícias) celebrados com os colégios e nos anos lectivos descritos, a quantia total de 803.519,80 euros", lê-se na acusação. Os arguidos, cinco administradores "estão acusados de crimes como corrupção activa, peculato, falsificação de documentos, burla qualificada e abuso de confiança qualificado".
Há muito que o assunto é conhecido, envolvendo ex-governantes, deputados e outras figuras. O GPS (Gestão de Participações Sociais) foi por GPS direitinho ao pote. Isto revolta, por um lado, pela ausência de honestidade, por outro, quando tanta falta faz o dinheiro à escola pública a braços com crónicas carências financeiras. 
Na Região Autónoma da Madeira, onde essas carências também são evidentes, o governo entrega de bandeja cerca de 26 milhões anuais ao sector privado. Isto significa a crescente desresponsabilização pelo sector público. Pessoalmente, respeito, totalmente, a livre opção das famílias, um direito inalienável, mas não à custa dos impostos de todos os contribuintes. A população goza do direito Constitucional à Educação e esse tem de ser universal, de qualidade e inclusivo. Onde há resposta pública não devem existir contratos de associação. Trata-se de uma questão de princípio, apesar, repito, de não ter dúvidas quanto à existência de pessoas, no sector privado, de comportamento gestionário irrepreensível. 
Fonte: Público.
Ilustração: Google Imagens.  

quarta-feira, 28 de março de 2018

ORGANIIIIIIIZEM-SE! HÁ GATO ESCONDIDO COM O RABO DE FORA


Há dias deixei aqui um texto enquadrando políticas no sector da Educação. Terminei com uma pergunta deixada ao presidente do governo: "será verdade que o seu secretário afastou a equipa que iria trabalhar junto das escolas as questões relacionadas com a política social na educação? E porquê? Não deixa de ser interessante que, hoje, a JSD, dizendo-se preocupada com "a violência e o bullying na escola", veio junto do Grupo Parlamentar do PSD Madeira (Drª Rubina Leal) apresentar uma proposta para que seja equacionado um Plano Regional de Prevenção da Violência no Meio Escolar - Fonte DN-Madeira.


Ora, isto significa uma evidente desarticulação política. Se, por um lado, o secretário, com o apoio do director regional de Educação, eliminou a divisão de politicas sociais de educação, onde me parece lógico que a prevenção fizesse parte das suas atribuições e preocupações, alterando a lei orgânica da Direcção Regional de Educação, refira-se, ainda, a meio do mandato, vem agora a JSD solicitar que seja "implementado através da Secretaria Regional da Educação, em parceria com outras entidades, uma equipa multidisciplinar e na qual se integrem elementos da sociedade civil. Para a JSD, um plano desta índole deve assentar em cinco pilares fundamentais: Protecção, Prevenção, Intervenção precoce, Estratégias e Mecanismos de Resposta e Responsabilização e punição dos agressores". 
Ora, na política o que parece é. Se uma equipa foi afastada e, agora, a JSD solicita a constituição de outra, obviamente que há gato escondido com o rabo de fora.
Independentemente de outras leituras, significa isto uma evidente desarticulação política. Já agora, o que é feito da "Carta da Convivialidade Escolar, iniciativa da Secretaria Regional de Educação (SRE/DRE) que visava proporcionar um ambiente escolar seguro, inclusivo, respeitador e propício às aprendizagens", sobre a qual tanto alarde foi feito? 
Um comentário final: organiiiiiiiiizem-se!
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 22 de março de 2018

SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO AUSENTE OU PERDEU A CONFIANÇA POLÍTICA?



Uma  brevíssima nota. Pelas últimas notícias e comportamentos políticos fico com a sensação que o secretário regional da Educação está ausente da Região ou perdeu a confiança política do presidente do governo. Tem sido o Dr. Miguel Albuquerque que tem assumido decisões, irrelevantes para o sistema, é certo, de qualquer forma, a solo, tem sido ele a falar de questões do sector educativo.  Um caso a esclarecer. 


Porém, mais importante que esses tiros esporádicos, já agora, o senhor presidente do governo deveria comunicar aos 6.500 professores da Região qual a posição que irá assumir, relativamente aos encargos com a contagem de todo o tempo de serviço congelado e que foi prometido pelo seu secretário. Também, já agora, se tem conhecimento da trapalhada dos últimos três diplomas remetidos aos sindicatos para elaboração de parecer e que contou com o repúdio do principal sindicato de professores da Madeira (SPM), por tratar-se de matéria absolutamente lesiva dos interesses da classe docente.
Só mais uma pergunta: será verdade que o seu secretário afastou a equipa que iria trabalhar junto das escolas as questões relacionadas com a política social na educação? E porquê?
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 20 de março de 2018

A INVERSÃO DE PRIORIDADES



FACTO

Li: "O governo madeirense fez uma parceria com uma empresa que se dedica ao desenvolvimento de kits e programas educativos, nas áreas das artes e tecnologias. O executivo de Miguel Albuquerque quer ver os novos conhecimentos a chegar a mais 4 mil alunos nas escolas e nos centros sociais, através das atividades extracurriculares". Fonte - RTP-Madeira/Política.

COMENTÁRIO

O Senhor Presidente do Governo e o seu secretário da Educação não acertam na política educativa. Eu percebo o interesse pela iniciativa privada, demonstrada no caudal financeiro anual para a rede de escolas privadas (directamente, cerca de 26 milhões de euros ano) quando o sector público constitui a prioridade CONSTITUCIONAL e dever dos governos, e o privado, um direito à livre e legítima opção das famílias. O financiamento dos dois, em simultâneo, quando não existe falha na oferta, é que está completamente errado. É, por isso que, ainda há dias, um professor de uma escola pública me dizia que não tinham dinheiro para nada e que até o "papel higiénico era racionado". Quando falha para isso, imagino as necessidades relativamente ao processo pedagógico! Ora, no que aqueles dois governantes deveriam concentrar as suas atenções, não é no apoio a uma empresa de "kits e programas educativos, nas áreas das artes e tecnologias", mas sim na reorganização do Sistema Educativo, onde tais conteúdos, obviamente, têm lugar com os professores que fazem parte do corpo docente. Portanto, esta iniciativa, para além de constituir uma certa ou total desconsideração pela classe docente, equivale a um penso rápido em uma ferida profunda. Espero, ainda, que o presidente do governo saiba, enquanto adulto, quantas horas efectivas trabalha por semana e qual o horário, também semanal, das crianças e adolescentes, entre o cumprimento do currículo, actividades escolares, estudo e outras (muitas) fora do ambiente escolar. Pergunto, se será de bom senso sobrecarregá-las com mais uma actividade extracurricular?
Finalmente, quanto custa esta "brincadeira"?
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 19 de março de 2018

BERTRAND RUSSELL (1872/1970) IDENTIFICOU O PROBLEMA



"São eles quem mais intimamente conhece as necessidades dos jovens. São eles que, por intermédio de um contacto diário, mais acabam por cuidar dos jovens. Mas não são eles que decidem o que deve ser ensinado ou quais os métodos de ensino a adoptar. Nesse sentido a profissão de professor deveria ter muito maior liberdade. Deveria haver mais oportunidade de autodeterminação, mais independência, face à interferência dos burocratas e fanáticos. (...) Como o artista, o filósofo e o homem de letras, o professor só pode realizar o seu trabalho, adequadamente, se se sentir um indivíduo dirigido por um impulso criador interno e se não estiver dominado e acorrentado por uma autoridade exterior"

In As Funções de um Professor - 1950

quinta-feira, 15 de março de 2018

ESTUDAR COM TABLETS AUMENTA O SUCESSO ESCOLAR


"Vá meninos, peguem no telemóvel que eu quero começar a aula", escreveu Alexandre Henriques, no blogue "comregras". Naquela frase, embora compreenda, só o pormenor "aula" é que me parece estar a mais. Pelo menos na formação básica. O conceito de "aula" traz consigo um posicionamento, já por outros caracterizado, como o de autocarro! Professor à frente na condução e alunos/passageiros nos bancos de trás. Hoje, esta imagem já não se coaduna com os novos formatos de aprendizagem. De resto, aquela frase é tiro no alvo. Peguem no telemóvel, no tablet ou em qualquer outra tecnologia e vamos a isto... vamos aprender. E aqui, o professor, torna-se, inevitavelmente, um moderador, um incentivador, um jogador, um provocador que desperta interesse em uma sala, saliento, sem a disposição convencional do "autocarro". 


Escreve o articulista: "(...) é apenas uma questão de tempo, mas acredito que esta expressão será um dia realidade na maioria das escolas. A escola como a conhecemos está a mudar e mais depressa do que nos apercebemos. Qualquer escola, qualquer professor, que mantenha a aposta no modelo tradicional vai simplesmente ficar para trás. Existe uma nova religião, a religião tecnológica e esta tem muitos, muitos crentes, dependentes e até fanáticos. A escola apesar de laica terá de aprender a conviver com ela, aceitá-la e acima de tudo orientá-la. Mas temos um problema! Os adultos que habitam nas escolas… A incapacidade que temos de acompanhar estes novos ritmos e os seus benefícios, fruto da nossa natural ignorância, é limitadora da sua implementação. Não é fácil entrar numa sala de aula em que o aluno se torna professor e o professor se torna aluno (...)".
Nada de novo, apenas a constatação da realidade. Há muito que tantos defendem essa mudança de paradigma. Não há volta a dar. O processo está irreversivelmente em marcha. O Diário de Notícias de Lisboa, na edição de ontem, puxou para primeira página: "Estudar com tablets aumenta o sucesso escolar". E adianta: "97,4% dos alunos que participaram nos dois anos do projeto Tablets no Ensino e na Aprendizagem, da Fundação Calouste Gulbenkian, passaram de ano. Uma experiência em duas turmas de uma escola secundária de Lisboa. "(...) O A., que era uma pessoa que não se interessava nada e, no final, melhorou imenso, fazia tudo e aplicou-se e motivou-se… Este aluno, neste projecto, encaixa muito bem. Eu dei-lhe 5, ele mudou imenso. Mudou da noite para o dia." (...) "Os professores tiveram a percepção de que a abordagem TEA desenvolveu competências do século XXI nos alunos, nomeadamente a aprendizagem independente, pensamento crítico, resolução de problemas do mundo real e reflexão; comunicação e colaboração; criatividade; e literacia digital." Os professores salientaram que os papéis dos alunos na sala de aula mudaram: "Tornaram-se avaliadores e tutores dos seus pares, formadores de professores, codesigners da sua aprendizagem." Explicam também que a participação nas atividades em sala de aula com uso de tablets tiveram um impacto positivo na motivação dos alunos. "O professor universitário José Luís Ramos, um dos autores do livro A Sala de Aula Gulbenkian: Entender o Presente, Preparar o Futuro, sublinhou que tinha notado uma "maior motivação e uma atitude mais positiva para com a escola e a aprendizagem" entre a maioria dos alunos. Regra geral, diz, os alunos que mais utilizaram os tablets foram também os que mais aprenderam".  
Concluo: o problema está naqueles que têm responsabilidades de governo. A Região da Madeira, por exemplo, há muito o digo, poderia estar na dianteira dos processos de aprendizagem. E não está. Fico pasmado, ou talvez não, ao ver políticos que olham para isto como "boi a olhar para um palácio". Isto é, sem apreço e sem manifestar importância. Simplesmente porque não basta dotar as escolas com computadores, muitas vezes para reproduzirem o manual, mais importante é (re)organizá-la em todos os aspectos, de tal forma que, no quadro da sua autonomia, ela possa gerar caminhos organizacionais e pedagógicos distintivos na forma de aprender. Porém, o que a secretaria regional da Educação faz é, exactamente, o seu contrário. Fico a olhar para os comportamentos diários, para os discursos de circunstância e para toda aquela meritocracia balofa e fico com este sentimento: "nada de modernices". Os dias passam-se sem uma palavra portadora de futuro, remetidos às tarefas burocráticas dos gabinetes que tresandam a mofo no que aos conceitos diz respeito. Tenho pena, pelas crianças, pelos jovens e pelos professores. 
Em poucas palavras: estamos a ficar para trás! Porque não sabem ou porque não querem?
Ilustração: Arquivo próprio.

quarta-feira, 14 de março de 2018

SEJA CURIOSO


"Lembre-se de olhar para as estrelas e não para baixo dos seus pés. Tente entender o que você vê e pergunte a si próprio sobre o que faz o universo existir. Seja curioso. Mesmo que a vida possa parecer difícil há sempre algo que você pode fazer e ter sucesso. É importante que você não desista" 

Morreu, hoje, aos 76 anos, o famoso astrofísico britânico Stephen Hawking.

terça-feira, 13 de março de 2018

SINDICATO DE PROFESSORES - 40 ANOS VIVOS E ACTUANTES


O que daqui resulta, repito, é que o sistema vai mudar em busca de um paradigma integrado. E temos de estar preparados para essa mudança, a todos os níveis, inclusive, na oferta formativa do sindicato. Aquilo que hoje acontece, o debitar, disciplina a disciplina, como se o ensino fosse uma linha de montagem de uma fábrica, ignorando a capacidade que os alunos transportam através de uma informação e vivências acumuladas, fora do ambiente escolar, por via do acesso aos mais variados meios, está a colocar em causa o formato enciclopédico a que, religiosamente, nos submetemos ao longo de dezenas de anos. O próprio espartilho da avaliação de desempenho que encosta os professores à parede da submissão, inexoravelmente, será mudado. E nós, SPM, temos de estar atentos e na dianteira deste processo.

Intervenção da minha responsabilidade na cerimónia comemorativa dos 40 anos do Sindicato de Professores da Madeira.

Caríssimo Coordenador do SPM 
Caríssimos membros da Direcção 
Caríssimos membros da Comissão Organizadora dos 40 Anos 
Caros Colegas 
Minhas Senhoras e Meus Senhores 

Quarenta anos. 
Não venho aqui falar nem do passado nem de sindicalismo. 
Sobre esse tempo apenas algumas sentidas palavras. 
Todos conhecem as traves-mestras da luta sindical ao longo de todo esse tempo. E conhecem, também, as figuras de proa que por aqui passaram. Muitos aqui estão. Colegas que, pelos outros, muito sacrificaram as suas vidas pessoais. Colegas que, vendo longe, bastas vezes foram incompreendidos, gerando-lhes sentimentos de alguma mágoa. Colegas que fizeram opções, sabendo que as conquistas eram milimétricas em função dos quilómetros a desbravar pelos direitos de todos e no sentido da dignificação da classe docente. Curvo-me e curvemo-nos perante essas mulheres e homens de mão-cheia que abriram portas e raramente encontraram terrenos fofos para cavar, antes feitos com a pedra da incompreensão. Paulatinamente, conseguiram, transcendendo, até, a mera defesa dos interesses corporativos. A defesa da escola pública com tudo o que daí resulta, a montante e a jusante, constitui uma marca, eu diria, inigualável no plano do sindicalismo. O capital de credibilidade e de notoriedade social constitui, hoje, um património que toda a classe docente se deve orgulhar. Porque, entre batalhas perdidas e ganhas, entre momentos internos serenos, face a outros de alguma ou muita tensão, o saldo é claramente positivo. 
Por todos fica, portanto, uma gratidão sem fim. Inclusive, aos colaboradores do SPM parte importante deste processo. 
Mas esse foi um tempo que passou. Tratou-se de uma fase de um processo. E porque se trata de um processo não deve parar. Esse alargado grupo de bravos professores fizeram o alicerce sobre o qual temos o dever de edificar os pilares do futuro. A herança deixada pelos que antecederam nesta casa, permite ter esperança, embora esta esperança necessite de ser alimentada, sempre, de forma “viva e actuante”. Tenhamos isto presente. 
O que implica dois desafios centrais: 1º “não esmorecer” face a tantos dossiês que estão por resolver, alguns de longa data, outros cíclicos e que atentam contra as expectativas, contra o direito inalienável da dignidade e respeito pela função que exercemos. Tenhamos presente o permanente jogo de toca e foge dos sucessivos governos. Irradiam simpatia, podem até prometer soluções adequadas, racionais e de bom senso, mas, depois o verbo eternizar é conjugado em todos os tempos e modos. “Não esmorecer” deve constituir-se como expressão que dê sentido à luta, no sector público, no particular e cooperativo e no superior. “Não esmorecer” na luta, quando se assiste a um crescente desinvestimento no sector público, os indicadores provam-no, desde as muitas inexplicáveis e unilaterais fusões de escolas, sem audição prévia e de consequências devastadoras, até à indisfarçável situação de carência financeira dos estabelecimentos de educação e ensino públicos. “Não esmorecer” quando a economia e o elitismo estão a tomar conta da política. “Não esmorecer” quando somos vergastados nos direitos salariais e na progressão na carreira, querendo agora, uns, oferecer umas migalhas compensatórias, outros que falam mas não encontraram tempo para assumir, preto no branco, o agendamento dos compromissos. “Não esmorecer” perante diplomas sobre concursos, vagas e outros que constituem não só um retrocesso, mas também uma ofensa a todos os que, há anos, fazem da docência a sua profissão. “Não esmorecer” perante o medo, hábil e subtilmente integrado no sistema, de natureza vertical e a todos os níveis, por vezes com manchas de perseguição, castrador das mais elementares regras de vivência e convivência democráticas e absolutamente desmotivador para quem escolheu ser docente. Há, caros colegas, uma luta a fazer para que não se assista à morte da autonomia das escolas, para que ela não se torne apenas de papel, já é, pior, ainda, à própria morte da autonomia dos professores. Nós não precisamos de elogios e de salamaleques, precisamos de acções concretas. 
Segundo: Temos de adoptar uma outra expressão que dê sentido à missão do Professor: há que dar “sentido prospectivo” ao nosso trabalho. A par do estrictamente sindical, a nossa “Carta Ética” abre portas a uma discussão séria sobre o sistema educativo regional. O sistema com o qual nos confrontamos tem como referência o passado, tem duzentos anos, incapaz de olhar para o presente e para o futuro, trazendo os traços desse futuro aos dias que estamos a viver. Os professores estão, hoje, embrulhados em um sistema centralizado, errado e penoso para eles e para os alunos. E ambos, professores e alunos, têm o direito de serem felizes no que fazem. Desbravar, tal como os de ontem fizeram, obviamente, trará inevitáveis consequências na nossa própria actividade sindical. É uma questão de tempo. 
Há dias li, a propósito, um texto brilhante e de grande exigência no sentido da sua decodificação inter-textual. Hoje, sabe-se, sublinha o texto, que “a actividade cerebral de um aluno, onde o aluno é apenas um receptor de informação, é semelhante ao que vê televisão (…) porque a fórmula é sempre a mesma: os professores no controlo e os estudantes não são pró-activos. Esta fórmula deve mudar, tendencialmente irá mudar, porque estudantes e professores devem aprender juntos e desenvolver os mesmos interesses (…). Reparem, doravante, o professor deve ensinar o que ele não conhece. É aí que a inovação começa”. Curiosamente, porque este não é tema novo, li, no início dos anos 70, um livro do Filósofo francês Georges Gusdorf. A páginas tantas fui confrontado: “O mais alto ensinamento do mestre não está no que diz, mas no que não diz”. Decorreram quase 50 anos, mas isto continua a fazer toda a diferença. Como faz a diferença, um professor visionário que tive, por essa altura, nos ter dito: como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente? O desencontro é inevitável. Não me canso de trazer em memória activa este posicionamento que acabou por orientar a minha vida profissional. 
Uma coisa é certa, colegas, como estão, “as escolas tornam-se, para inúmeras crianças e adolescentes, verdadeiras catedrais do tédio”, síntese com a qual me revejo, de Ilídia Cabral, docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Ora, isto implica, necessariamente, mudanças de pensamento estrutural, não apenas no plano organizacional do sistema, no plano curricular e programático, mas, fundamentalmente, no processo pedagógico. Porque, hoje, muitos se queixam, cito o Professor Joaquim Azevedo: "(...) a escola mudou pouco, os adolescentes mudaram muito", pelo que "a indisciplina cresce, cresce, cresce", cada vez mais. Saberão os governantes as razões mais substantivas, quer a montante, nas famílias, quer a jusante, na escola? 
O que daqui resulta, repito, é que o sistema vai mudar em busca de um paradigma integrado. E temos de estar preparados para essa mudança, a todos os níveis, inclusive, na oferta formativa do sindicato. Aquilo que hoje acontece, o debitar, disciplina a disciplina, como se o ensino fosse uma linha de montagem de uma fábrica, ignorando a capacidade que os alunos transportam através de uma informação e vivências acumuladas, fora do ambiente escolar, por via do acesso aos mais variados meios, está a colocar em causa o formato enciclopédico a que, religiosamente, nos submetemos ao longo de dezenas de anos. O próprio espartilho da avaliação de desempenho que encosta os professores à parede da submissão, inexoravelmente, será mudado. E nós, SPM, temos de estar atentos e na dianteira deste processo. 
Corolário disto, já não é, apenas, a Síndrome de Burnout que a muitos invade, esse estado depressivo, o esgotamento físico e mental intenso que marca a vida de muitos docentes. A caminho vem uma sintomatologia associada, tendencialmente mais complexa, por inadaptação. No tempo que estamos a viver, sublinho, em aceleração constante, vão associar-se, de forma agravada, outras variáveis, face às quais, a maioria dos professores não me parece que esteja preparada. 
Cruzo-me com colegas que se dizem exaustos, cansados da vivência da escola, que sentem a necessidade da tal mudança, porém, invariavelmente, perguntam-me: mas como fazê-la? Começa aí a pescadinha de rabo na boca! Um círculo vicioso preocupante e doentio. Se, por um lado, há uma tomada de consciência que o caminho deverá ser distintivo, por outro, não sabem que rumo operacionalizar. Confrontam-se com o sistema político, com as regras impostas, com os normativos, com a arrepiante burocracia, com a rotina e com o natural sofrimento interior de quem sabe que este já não é chão que produza felicidade, para uns e para outros. O problema é que o prazer da curiosidade, o prazer de fazer pensar está a ceder ao sofrimento. Enalteceu o Professor Alexandre Quintanilha, cito: “Eu vivo porque sou curioso”. Ora, não se desenvolve a curiosidade e, já agora, o pensamento, com os conceitos de aula e de turma que já não fazem sentido, nos tempos que correm, tampouco com o toca-entra-toca-sai! 
Tenhamos consciência que, hoje, estamos a ensinar para empregos que tendencialmente não existirão ou serão diferentes. Estamos a ensinar de forma segmentada quando a vida é um todo de respostas exigentes, complexas e adaptáveis. Estamos a ensinar individualmente, para depois, nas profissões, exigirem trabalho em grupo. Não bate certo. 
E assim regresso ao segundo ponto, à necessidade de termos de adoptar a tal expressão que dê sentido à missão do Professor: embora se faça tarde, há que dar “sentido prospectivo”. Trazer o futuro ao presente. Esse sentido está lá, subtilmente, repito, na “Carta Ética”, quer na relação com os alunos, quer na relação com os pares de profissão quer, ainda, na relação com outros membros da comunidade educativa, com os pais e com a comunidade externa. 
São estes dois pontos, por um lado, “não esmorecer”, por outro, ter “sentido prospectivo”, os pontos que devem animar o próximo futuro. Estes quarenta anos constituíram o alicerce. Tenhamos, agora, a coragem e o discernimento de edificar os pilares onde assentará uma espécie de laje para a construção do futuro e tenhamos o bom senso de nos prepararmos para os novos desafios e lutas no plano sindical que as mudanças trarão no seu bojo e que serão cada vez mais complexas. 
A terminar, deixo-vos com um parágrafo que li em um texto do Professor Emanuel Oliveira Medeiros que alimenta a esperança: "(…) Temos de despertar e acordar para a nossa vocação ontológica de "ser mais". É tempo de ser, para respirar, existir e coexistir. É tempo de questionar. É urgente renovar a Escola: o currículo e as práticas pedagógicas têm de ser espaços e tempos para cultivar valores maiores que contribuam para a afirmação da Verdade, da Justiça, do Bem, do Belo, da Solidariedade, da Fraternidade (entre tantos outros), fazendo regenerar a saúde nessa sociedade doente e corroída pelo individualismo ganancioso, pela mentira, pela inveja, pela maldade, onde se multiplicam tantas formas de pobreza e exclusão (...)" 
Obrigado pela vossa atenção. 
Viva o SPM.

sábado, 10 de março de 2018

QUO VADIS EDUCAÇÃO: "EXAMES NACIONAIS, MÉDIAS, RESULTADOS E RANKING'S: EIS OS NOVOS COMANDOS DO ENSINO"


A declaração é do Professor Diamantino Santos, presidente do Clube de Ecologia Barbusano. Um clube que, lamentavelmente, definha. Dá que pensar o excelente trabalho apresentado, na edição de hoje do DN-Madeira, pelo jornalista Ricardo Duarte Freitas. Leio: a culpa é do modelo do sistema de ensino que não permite contextualizar o conhecimento. Diz o professor: "além de dar a conhecer os sítios, o objectivo das saídas de campo é olhar, reflectir, analisar e interpretar os sinais da paisagem, fisicamente e na forma como tem evoluído, juntamente com os cursos de água, as formas de relevo e a intervenção humana no espaço (...) na última saída, entre o Santo da Serra e a Ribeirinha (Camacha), que contou com cerca de 60 participantes, nós encontrámos eiras velhas, cerca de 10 a 11 casas abandonadas e colonizadas pelo silvado. Isto corresponde ao abandono do mundo rural, à saída dos jovens, à fraca acessibilidade dos locais" (...) É um pouco como ler a paisagem, encontrar lixo e ver os impactos negativos, as águas que deviam estar canalizadas e não estão, percursos que não estão cuidados, levadas entupidas".

Fico perplexo como é que, nos dias de hoje, se secundariza tamanha vivência de aprendizagem. Pois, percebo: "as actividades do clube não entram no ranking" (...) "As saídas são parte integrante da formação, da cidadania, mas não saem no exame de físico-química”, ironiza o professor. Nem mais.
Leio e exclamo: oh escola quanto errada estás! Hoje, os clubes, como o Barbusano, estão assim, "tipo satélite em órbita. À espera que alguém tenha tempo de retomá-los".
Continuo a ler: o foco do ensino está centrado na sobrecarga horária e no próprio edifício da escola. "É tudo muito teórico, tudo para exame" (...) "Antigamente a dinâmica era diferente, havia mais participação dos alunos. Era mais fácil a participação deles. Desde que começaram os exames nacionais o foco dos alunos é diferente. É trabalhar para as notas”, salienta o Professor Agustin Freitas. “Falo pelo que vejo nos meus alunos: as saídas de campo são sempre aos sábados e eles chegam a sexta-feira já esgotados. Eu também estou esgotado. E é claro que a motivação é outra”, acrescenta.
Nota final: "O clube de ecologia é auto-suficiente. Vive das quotas dos cerca de 60 sócios pagantes que se destinam inteiramente às actividades. Não recebe qualquer comparticipação financeira do governo, do município ou da escola". Voltei atrás e reli partes do trabalho e exclamei: que raio de sistema que se interessa tanto pela "bandeira verde" aqui e ali, como acto de propaganda política, mas que, qual paradoxo, directa ou indirectamente, bloqueia a contextualização do conhecimento. Tudo teórico... tudo manual... tudo exames, mesmo que seja para esquecer. Que pobreza!
Professor Diamantino Santos e todos os outros, não deixem que o Barbusano morra. Têm a palavra o secretário da Educação e a secretária do Ambiente e dos Recursos Naturais. Entendam-se.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 7 de março de 2018

FUMO NEGRO?


Não é preciso relembrar o calendário que nos trouxe até aqui no que respeita a dispor de um novo diploma que organize as respostas que são necessárias para que a escola possa acolher todos os alunos e em particular aqueles que têm condições de dificuldades. É um processo que se inicia com a consulta pública de 4 de julho de 2017 e que prossegue ainda hoje, dia 5 de março de 2018. 


A publicação de uma nova lei suscitou fundadas expectativas. Estas expectativas prendem-se com dois aspetos: antes de mais o processo de auscultação e de discussão pública que permitisse um maior alargamento da base de decisão e influência sobre esta lei; por outro lado, esperava-se que esta lei permitisse um avanço mais decisivo na construção de uma “escola para todos e para cada um” assinalando um maior esforço – talvez uma nova etapa – no aprofundamento do percurso inclusivo das escolas. 
O texto que foi dado a conhecer para discussão pública, cumpriu, na minha perspetiva, estes dois desideratos e no seguimento das numerosas sugestões que foram feitas para a sua melhoria, criou fundadas esperanças que iria influenciar a curto prazo a organização inclusiva das escolas. Sabemos que nem tudo se resolverá com uma nova lei, mas, o certo é que estas expectativas têm um papel determinante na motivação, no compromisso de virar uma nova página e inspirar novas formas de atuação. Desvalorizar este efeito sobre as comunidades educativas seria um erro. 
O certo é que não temos ainda lei publicada. E está a fazer falta. Criou-se a expectativa e agora começa a crescer um certo desapontamento. Por todo o país as ações de formação e de informação que se solicitam é sobre “a nova lei”. Tanta e tão grande expectativa rompe a ideia de continuidade de um documento que digeriu as propostas que foram feitas e que naturalmente lhes deu resposta. Aquilo que sido apresentado como sequencial: publicação da lei, seguida de ações de formação sobre a implementação e clarificação das alterações que ela implicava, acabou por ser não sequencial. Temos agora a decorrer estas ações de formação sem que a lei tenha sido publicada. 
A Pró–Inclusão está preocupada com este atraso e com este descompasso e na mesma lógica colaborativa que temos tido com a Tutela, apelamos uma vez mais para que todo este processo seja clarificado, que seja feita uma informação sobre o que se está a passar e o que se planeia para que os professores sejam tratados - até ao fim deste processo – como parceiros válidos, conscientes, construtivos e conhecedores. Aqui fica o apelo. 
David Rodrigues

sábado, 3 de março de 2018

O SISTEMA EDUCATIVO REGIONAL SOFRE DA POLÍTICA DO INTERRUPTOR


Ainda bem que o assunto "processo de inquérito" ou "processo disciplinar" (desconheço a fase e pouco isso me rala) continua a mexer. Pela minha banda a procissão "Curral das Freiras" ainda nem ao adro saiu. O que significa dizer que continuarei a combater a centralização e todas as ameaças, subtis ou descaradas, contra os professores, desde que se me afigurem injustas. Continuarei a defender, por extensão, um sistema educativo enquadrado com as exigentes respostas dos tempos que estamos a viver. Daí que, por uma questão de princípio, sustento que a Educação deve ser POLITIZADA, mas nunca PARTIDARIZADA. E pelo andar da carruagem, está! Existe muita falinha mansa, muita conquista política das pessoas com palavras envoltas em mel, "nomeações políticas" a carecerem pormenorizada explicação (vide edição de hoje do DN-Madeira) porém, o sistema, velho e gasto, tresanda e deixa rabinhos de fora à mercê de quem deseje analisar.


Há, indiscutivelmente, uma perseguição política ao Professor Joaquim José de Sousa da Escola 1,2,3 do Curral das Freiras. Na minha página de Facebook, a propósito de um texto que publiquei, quatro pessoas deixaram os seguintes comentários:

Flavio Sousa O Joaquim José Sousa é uma personalidade pública brilhante e incómoda, não acredito que as acusações sejam verdadeiras. Só um psicopata ou um mentecapto poderia falsear rankings, favorecer professores amigos na distribuição de horários ou inscrever alunos em cefs sem o seu conhecimento e depois culpar os professores.
Mony Trindade Grande pessoa! Grande ser humano! Excelente diretor! Se algum dia me senti verdadeiramente útil, acarinhada e valorizada foi sob a sua chefia na escola do Curral da qual guardo excelentes recordações e estará eternamente no meu coração!
Orlanda Santos Muito Bom o post. Política suja! Deixem o homem trabalhar e com bons resultados! Parabéns a este professor pelo seu trabalho de ajudar a formar alunos com bons resultados!
Daniela Silva Enquanto uns tentam manchar a imagem da escola e do próprio director, ele está lá na escola a trabalhar e a nos incentivar a sermos cada vez melhores! Sem dúvida uma grande pessoa e um grande exemplo a seguir.

Comentários livres e espontâneos. Para o secretário da Educação e os que o rodeiam tais comentários não são preocupantes, certamente. A norma é mais importante que o desejo de fazer diferente e melhor. A circular é muito mais relevante que qualquer dinâmica do e para o aluno. O preceito é muitíssimo mais importante do que desenvolver o pensamento e a criatividade. O modelo, tipo pronto-a-vestir, tamanho único, deve sobrepôr-se a qualquer tentativa de inovação. O padrão, do Porto Santo à Ponta do Pargo é para ser aplicado sem questionamento. É a política do interruptor: alguém liga e todos cumprem. Tudo o resto é pura fantasia.
Aliás, nesta Legislatura, a caminho de três anos de governo AUTÓNOMO, quando existe tanto, mas tanto texto e posições sobre a construção do futuro, talvez a ignorância seja minha, não consigo descobrir uma linha de pensamento (só uma) sobre o futuro. Apenas rotina, burocracia, visitas de circunstância, muita pose e "ponto e vírgula", dando aso a que se pense que quem manda nisto somos nós! Ora bem, será que ninguém consegue ver o erro estratégico? Será que, nesta grande parada, quem está com o passo trocado são todos quantos se opõem, desde a OCDE, aos investigadores e autores?
Por favor, não partidarizem isto, porque isto é o nosso futuro colectivo. Percebam uma coisa: pode-se apresentar 100% de "sucesso" nesta ou naquela escola, atenção, no quadro deste sistema educativo, porém, o problema não reside aí, ele está em um sistema estruturalmente desadequado. Logo, os tais 100%  podem corresponder a 100% de insistência no erro. Quando outro é o processo e os resultados satisfatórios, aí sim, podemos, então, falar de sucesso.  
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 2 de março de 2018

A ESCOLA MATA A CRIATIVIDADE


Este vídeo foi publicado há três anos. Continua actual. Julgo, até que já o partilhei no meu blogue "comqueentao". Voltei a visioná-lo a propósito de alguns comentários que recebi, relativamente a um texto a que dei o título: "O sistema educativo actual falhou porque matou a criatividade". Da minha parte não tenho a menor dúvida: matou e continua a matar. A escola que temos não apenas mata a criatividade, como mata a curiosidade. Sir Ken Robinson, é um autor, palestrante e consultor internacional em Educação. Tal como outros insiste na necessidade de romper com o passado.